ex foto, 2006 . 1m x 1m
museu, 2006 . 1m x 1m
caligrafia da luz, 2006 . 0,40 x 0,70 cm
sombra subindo a escada, 2004 . 0,40 x 0,70 cm
fisssura, 2004 . 0,40 x 0,70 cm
curto circuito, 2002 . 0,40 x 0,70 cm
fortunatus, 2004 . 0,40 x 0,70 cm
drama, 2006 . 0,40 x 0,70 cm
ouvir o silencio para criar barulho, 2003 . 1m x 1m
reserva índios Kaigang, Ivaí PR, 1980 . 0,40 x 0,70 cm
mar de chuva, 2003 1m x 1m
Soul, 2006 . 1m x 1m
vísceras em vice versa, 2004 . 1m x 1m
um uma, 2004 . 1m x 1m
Vilma Slomp, 2007 . Museu de Fotografia Curitiba, PR
Vísceras em Vice Versa
Vísceras em Vice Versa . reflexão sobre a arte e o poder no Brasil abrangendo a guerra e a destruição da natureza, assim como a própria artista vitima de erro médico.
Em 2006 realizou exposição na Pinacoteca em São Paulo com 72 fotografias e lançou o livro com textos do poeta Decio Pignatari e do curador Diógenes Moura.
Em 2007 realizou a mesma exposição em Curitiba no Museu de Fotografia quando foi apresentado monologo sobre a obra com o ator paulista Rodrigo Spina.
textos críticos
Outro:instruções de uso* Diógenes Moura/2006 - Curador da Pinacoteca de Curitiba
Vilma Slomp faz uma fotografia como quem usa ser escutada. Ela mesma diz que suas imagens não constituem como "história inventada de inferno e céu". Mas sãoessas mesmas imagens que procuram e que formam uma voz para tantas outras vozes e para uma única voz: a voz que fala e que ao mesmo tempo escuta aquelepequeno outro, o que se joga para (e diante) de um mundo, e que mundo serámesmo este: uma circunscrição geográfica de uma ameaça e sua báscula entrevida e morte.
Se assim é, as imagens de Vísceras em Vice Versa são derradeirasaté o momento em que cada uma das usas portas sejam abertas. E que, por suasbrechas, entre a luz que faz om que a existência surja de uma língua maternapara o grande outro seja incorporado à alma. Assim, esta série de imagenstraduz momentos entre 2004 e 2006 nos quais Slomp travou consigo mesma ummonólogo, uma espécie de adivinhação do inconsciente para depois dedicá-lo aomundo externo-interior.
No meio desse percurso existe uma carta. Ou seja, aquele tom que faz com que a
"língua seja a matéria da afetividade". Dentro da carta, uma vítima. Ela mesma. Um erro médico "renegociou" o que seriam as próximas imagens da fotógrafadepois da série Ilusão, iniciada em 2001. A partir daí, Slomp resolveu "publicar"um romance do que seriam os seus próximos e futuros dias, eo que poderia vir aser o próximo e futuro entre arte e poder. Os dias que ficaram lá atrás e os que aquiestão. Eles são assim: feitos de amalgamas; de norte a sul do real; de uma voz que grita enquanto outra voz escorrega pelo corrimão.
Se existe "um céu sem rancor" como ela diz, a carta é a tradução de um mundo de hierarquias que divinizam asforças da natureza de cada uma dessas fotografias.
Se doem? Doem, sim. Doemcomo doeu o grito no transe desconhecido naquela madrugada de março. Doemtanto quanto pode doer a arte da razão; a máscara alheia e a sina diluída noespelho dos que mentem. Doem tão pouco (tão pouco?) quanto pode doer alguémque se rasga inteirinho para propor aos olhos alheios um ponto em comum, frágil(frágil?) como o verbo. Algo que indique ao pequeno e ao grande outro umalíngua que se faça entender pelas mesmas instruções de uso: as que registram a memória do tempo e outras, que transferem para todos os lados os territórios dopensamento.
* Título de Angela Jesuino Ferretto, conferência proferida no Maison de l'Amérique Latine, maio 1999
Natural/mente - Décio Pignatari/Curitiba julho de 2006
"Quand il faisait beau temps au paradis perdu"
Beaudelaire
Quando Vilma quer botar vida na foto: metáfora; quando foto na vida: metalinguagem. Mas há misturas de figuras e do símbolo verbal com o ícone. Na metáfora, a câmera registra a coisa previamente articulada em discurso, ainda que obra aparente do acaso: selecionar é obrigar a coisa a arranjar-se, posando para um significado que não sabe se é o dela: Ex-foto, Sagrada Família, Lambendo feridas, Tragédia grega, Museu, Raízes da memória. Metalinguagem: a coisa fotografa, registra, denuncia e revela a fotocâmera. O grau zero dessa operação visceral está naquela absurda, inconspícua paisagem batizada de Mar de chuva. Mas também em diálogos de nomes enganosos, ou inominadamente, em harmônicos desacordos de texturas reticulares: Curto circuito, Redenção.
Em Vilma, o cinza que escapa do negro já é alegria.
Sob o quase sarcástico juízo do olho moby-dick do Umbigo da minha mãe, vísceras e orgãos em conformações ao mesmo tempo sinistras e cômico-grotescas: Não tenho mais fígado, A língua do poder. Também em fôrmas, rosas metálicas de fitas dobradas vão ao forno crematório: Segredos de cabeceira de um Vênus hospitalar.
Requintada naive, arregala as pálpebras objetivas dos sofridos diafragmas de suas entranhas peculiares, como um corpo antagônico que auscultasse a fotografia. Ou melhor, a história da fotografia, de Nièpce a Rio Branco, passando por Atget, do Mar de chuva até uma casa de cacos de móveis desabitada por um vira-lata.
Negro canhão solar melancólico-oswaldiano apontado para olhares amigos e inimigos, a fim de mostrar-e-mostrar-se sob uma luz nada light- eis a câmera slompiana. De buracos e gretas de uma parede-muro ou de um genital barranco dadaísta, até um chocantemente belo nu juvenil sob carícias escriturais de uma samambaia, em inusitado lance a passeia a passionária e apaixonada Vilma Slomp pela dolorosa paisagem paradisíaca de sua bioluminosidade.
Décio Pignatari/Curitiba julho de 2006